2006/10/05

"Quem sai aos seus..."




Toda a genta já ouviu, ao menos uma vez na vida, a expressão "quem sai aos seus não degenera"; no caso de Henri Toivonen, essa máxima assenta como uma luva; desde muito cedo se mostrou bastante à-vontade com um volante nas mãos, serpenteando entre curvas numa qualquer estrada florestal, num bailado arrepiante e ao mesmo tempo tão belo, que dava aos espectadores a ideia que estaria constantemente a conduzir no fio da navalha, às vezes talvez mais além ainda... Veio várias vezes a Portugal para disputar o Rallye de Portugal-Vinho do Porto, apenas tendo terminado uma vez a prova, num honroso 2º lugar e era tido como um piloto algo imaturo e incostante, mas sem dúvida talentoso, capaz de atingir os píncaros num instante para no momento seguinte agir como um principiante e deitar tudo a perder... Contudo, na Lancia acreditava-se que este seria um futuro campeão; e Cesare Fiorio, então director desportivo, mostrava uma fé inabalável no "seu" benjamim, escolhendo para companheiro de equipa Markku Alen; a "missão secundária" de Fiorio para este piloto, na altura com cerca 10 anos de experiência no Mundial de Ralis e por ser o considerado o mais latino dos pilotos nórdicos, era que incutisse alguma maturidade a Henri. Em 1984, a estreia do Lancia 037 Evo em asfalto efectuou-se em Portugal, tendo este modelo o handicap de ter apenas 2 rodas motrizes, quando comparado com os Audi, o principal oponente... No entanto, em asfalto seco, o menor peso do conjunto e o maior equilíbrio do modelo devido à colocação do motor em posição central, faziam dele a "lebre" que todos tentavam apanhar... As primeiras PEC's (Provas Especiais de Classificação) do Rallye, na região de Sintra, consistiam em 3 passagens por um conjunto de 3 PEC's. Na 1ª ronda, Henri bate o tempo de todos os concorrentes, assim como nas 2 primeiras PEC's da 2ª ronda, "cilindrando" a concorrência e baixando os tempos da 1ª para 2ª passagem; porém, na 6ª PEC, um maior excesso de fogosidade resultou numa saída de estrada, com o consequente abandono na prova... Henri ficou desolado, reconhecendo que tinha errado mais uma vez, num acto de sinceridade e humildade que o caracterizvam enquanto homem... Mais tarde Cesare Fiorio, ao ser abordado pelos jornalistas para efectuar uma avaliação à prestação em prova de Henri, e sobretudo às consequências de mais um despiste, alimentando a polémica nos media acerca da controversa decisão da escolha de Henri para seu piloto foi surpreendente; Fiorio sorriu e limitou-se a a referir que estava bastante satisfeito com a prova de Henri; o erro que originou o despiste era de lamentar, de facto, mas a partir daquele dia, todos ficaram a conhecer os verdadeiros limites do Lancia 037, e além de tudo o resto essa era a lição a reter. A 2 de Maio de 1986, Henri e o navegador Sergio Cresto faleceram depois do Lancia onde seguiam se ter despistado nas sinuosas estradas da Córsega e tornado numa bola de fogo desgovernada. Ainda hoje Henri é um exemplo de vida para muitos, pela forma apaixonada e sincera como encarava os Rallyes, correndo apenas para o melhor tempo em cada troço, tentando chegar sempre o mais depressa possível à bandeira de xadrez; no entanto, para se ganhar um Rallye, é preciso antes de chegar em primeiro, primeiro chegar. Tal como no quotidiano...





1 comentário:

-raybrig- disse...

Sou um grande admirador de Henri Toivonen e apesar de os meus 27 anos não me terem permitido vê-lo correr ao vivo e em directo, desde sempre me fascinou a forma como pilotava, não só os Lancia, mas também outras coqueluches não menos impressionantes dado o grau de dificuldade, tal como os Talbot Lotus ou os Sunbeam, que nas suas mãos mais bem pareciam brinquedos com os quais qualquer criança poderia brincar...O que não era o caso! Bem pelo contrário... Eram máquinas realmente difíceis de pilotar e perigosas. Tudo o que sei sobre ele, resume-se ao que vou vendo aqui e ali num site ou outro, mas é mais que suficiente para perceber que, como diz, apesar da sua imaturidade, era um verdadeiro 'finlandês voador' e admiro-o muito, em todos os aspectos. O 037 de 84 era uma máquina bastante admirável e imprevisivel também, mas que depressa foi destronada pela maior capacidade dos 4x4 da Audi, o que obrigou a Lancia a inovar e o resultado foi o desenvolvimento do Delta S4, no qual Henri se sentia verdadeiramente à vontade e que na versâo Tour de Corse, chegou a debitar uns descomunais 610 cavalos de potência. Foi com esta versão que Toivonen e Cresto faleceram ao abordarem uma curva à esquerda, normalmente 'feita' na casa dos 130/140 km/h, a um pouquinho mais de 160... Imaturo? Bastante... Mas que foi um dos melhores pilotos de sempre na sua categoria, isso foi. Faz-me lembrar o mítico Gilles Villeneuve, na f1, mas isso ja~é outro tema, não muito diferente!