2007/02/19

Then & Now




No passado fim de semana foi tempo de romaria a Sintra; Não tinha referências da vila em si, a não ser do facto do Rallye de Portugal do "antigamente" por lá passar, de lá existir um museu do brinquedo e do quão pitoresca me tinham dito que era a vila; como balanço posso dizer que foi um fim de semana excepcional a todos os níveis, quer pela companhia, pelo ambiente, pelos "comes e bebes" e também pela adrenalina de ver e ao vivo e calcorrear locais que apenas conhecia a duas dimensões... Compreendo agora por que Sintra tem uma auréola de magia associada, pois parece renascida do passado, com uma floresta densa e um tacto húmido em tudo o que é inerte ou vegetal... A paisagem vista do topo do castelo é duma imensidão enorme e o contraste praia / zona saloia /Lisboa é simplesmente belo!!

Tal como os locais ficam preservados mantendo vivas as memórias do que por lá passou, também as relações de amizade entre pessoas ficam preservadas, e com o passar do tempo tornam-se mais fortes e enriquecedoras, como se não houvesse ausência nem distância.

2006/10/16

Family Ties

A família representa, como é óbvio, uma importante parte das nossas vidas, e de todos os momentos que passamos com ela, há sempre alguns mais especiais do que outros. Desde que me conheço como gente que me recordo dos meus avós, de estarem por casa nas "lides domésticas" ou a trabalhar nos campos de cultivo, e de agirem no decorrer do dia-a-dia com uma generosidade e simplicidade fruto dos muitos anos de vida e da "carreira profissional que abraçaram ou pela qual foram envolvidos" que me serviram de exemplo em muitos aspectos; e do que, de certeza inadvertidamente, me ensinaram acerca da existência de coisas simples e de como elas por serem tão banais e primitivas, como o simples facto de atear uma fogueira para cozinhar uma panela de sopa, são de tal forma místicas e inesquecíveis, que o sabor de tal iguaria parece continuar para sempre nas "papilas gustosas", para nunca mais sair, e à espera de um pequeno estímulo da memória, para se diluir na saliva, como se nunca tivesse atravessado a faringe. O facto de aos meus olhos nunca terem envelhecido dá-lhes uma aura de imortalidade que de tão ilusória que é, se torna ainda mais dolorosa quanto mais o tempo vai passando. Nos últimos tempos a saúde de um deles, talvez aquele com que mais me identifico, piorou de tal forma avassaladora e irreversível, que é para mim difícil de entender como é que alguém pode chegar a um tal estado, ainda por cima consciente. Infelizmente acabou por falecer... Apesar de, no meu íntimo, e por razões óbvias, continuar para sempre vivo e por perto... Chegar aos 80 anos deve ser óptimo, mas como alguém me disse recentemente,..."quem não vai de novo, de velho não escapa!". "...and so the story goes..." RIP +

2006/10/05

"Quem sai aos seus..."




Toda a genta já ouviu, ao menos uma vez na vida, a expressão "quem sai aos seus não degenera"; no caso de Henri Toivonen, essa máxima assenta como uma luva; desde muito cedo se mostrou bastante à-vontade com um volante nas mãos, serpenteando entre curvas numa qualquer estrada florestal, num bailado arrepiante e ao mesmo tempo tão belo, que dava aos espectadores a ideia que estaria constantemente a conduzir no fio da navalha, às vezes talvez mais além ainda... Veio várias vezes a Portugal para disputar o Rallye de Portugal-Vinho do Porto, apenas tendo terminado uma vez a prova, num honroso 2º lugar e era tido como um piloto algo imaturo e incostante, mas sem dúvida talentoso, capaz de atingir os píncaros num instante para no momento seguinte agir como um principiante e deitar tudo a perder... Contudo, na Lancia acreditava-se que este seria um futuro campeão; e Cesare Fiorio, então director desportivo, mostrava uma fé inabalável no "seu" benjamim, escolhendo para companheiro de equipa Markku Alen; a "missão secundária" de Fiorio para este piloto, na altura com cerca 10 anos de experiência no Mundial de Ralis e por ser o considerado o mais latino dos pilotos nórdicos, era que incutisse alguma maturidade a Henri. Em 1984, a estreia do Lancia 037 Evo em asfalto efectuou-se em Portugal, tendo este modelo o handicap de ter apenas 2 rodas motrizes, quando comparado com os Audi, o principal oponente... No entanto, em asfalto seco, o menor peso do conjunto e o maior equilíbrio do modelo devido à colocação do motor em posição central, faziam dele a "lebre" que todos tentavam apanhar... As primeiras PEC's (Provas Especiais de Classificação) do Rallye, na região de Sintra, consistiam em 3 passagens por um conjunto de 3 PEC's. Na 1ª ronda, Henri bate o tempo de todos os concorrentes, assim como nas 2 primeiras PEC's da 2ª ronda, "cilindrando" a concorrência e baixando os tempos da 1ª para 2ª passagem; porém, na 6ª PEC, um maior excesso de fogosidade resultou numa saída de estrada, com o consequente abandono na prova... Henri ficou desolado, reconhecendo que tinha errado mais uma vez, num acto de sinceridade e humildade que o caracterizvam enquanto homem... Mais tarde Cesare Fiorio, ao ser abordado pelos jornalistas para efectuar uma avaliação à prestação em prova de Henri, e sobretudo às consequências de mais um despiste, alimentando a polémica nos media acerca da controversa decisão da escolha de Henri para seu piloto foi surpreendente; Fiorio sorriu e limitou-se a a referir que estava bastante satisfeito com a prova de Henri; o erro que originou o despiste era de lamentar, de facto, mas a partir daquele dia, todos ficaram a conhecer os verdadeiros limites do Lancia 037, e além de tudo o resto essa era a lição a reter. A 2 de Maio de 1986, Henri e o navegador Sergio Cresto faleceram depois do Lancia onde seguiam se ter despistado nas sinuosas estradas da Córsega e tornado numa bola de fogo desgovernada. Ainda hoje Henri é um exemplo de vida para muitos, pela forma apaixonada e sincera como encarava os Rallyes, correndo apenas para o melhor tempo em cada troço, tentando chegar sempre o mais depressa possível à bandeira de xadrez; no entanto, para se ganhar um Rallye, é preciso antes de chegar em primeiro, primeiro chegar. Tal como no quotidiano...





2006/10/01

Dia de Romaria



Sábado passado foi dia da visita anual ao Motorshow-AutoClássico, na Exponor... Como já vem sendo hábito, e com os suspeitos do costume (ouve algumas desistências de última hora..), estas idas anuais servem para "lavar as vistas" no que diz respeito ao passado e presente de engenharia automóvel, e acima de tudo, para juntar a tertúlia... Quanto à exposição propriamente dita, algumas novidades, como a maquete do Vinci, algo difícil de definir devido à quantidade de fontes de inspiração visíveis nas linhas da carroçaria... Não posso dizer que considere o modelo bonito, ou atraente, mas essa certamente será a opinião dos (poucos)afortunados que se poderão dar ao luxo de adquirir o modelo quando este for colocado à venda; eu, por razões mais que óbvias, não tenciono adquirir um... Contudo, espero sinceramente que desta vez se quebre o enguiço comercial que acompanha a Indústria Automóvel de origem portuguesa. Os vários modelos de competição expostos foram (não são sempre???) um regalo para a vista, mas o que mais destaco foi um período temporal de cerca de 20 minutos, junto ao stand da Talento, onde por um lado, tive o prazer de trocar algumas palavras com Francisco Santos (autógrafo com dedicatória incluída, pois claro!!), e, apesar de já ter terminado a sessão de autógrafos no espaço da Talento, com "Nicha" Cabral com quem pude trocar meia dúzia de palavras. A descrição verbal da corrida de Vila Real ao volante do Porsche 917 e da longa, estreita e lenta (mentalmente, claro!!) recta das Hunaudiéres efectuada durante a noite vieram complementar as imagens com que já tinha ficado ao ler a sua biografia, adquirida há já alguns anos e que lamento não ter levado para ser colocada uma dedicatória... Fica para uma outra vez, decerto...

Na area do salão dedicada à automobilia e peças, várias surpresas; já se começam a ver Majorettes como objectos de colecção (e os preços assutam...), e pude comprar umas "goodies" como os regulamentos oficiais do extinto (mas não esquecido...) Troféu Seat Marbella, ou uns postais com cerca de 15 anos com a particularidade de alguns estarem autografados pelos intervenientes, autocolantes da mesma época, que apesar de serem objectos algo banais, poderão ser tidos como documentos que retratam páginas da história do automobilismo português... Uma outra curiosidade... o folheto que ilustra o post (já foi um autocolante, mas entretanto perdeu a cola...); terei de efectuar algumas investigações, mas creio que poderá ser mesmo da mítica garagem...

Enfim, acima de tudo foi mais um dia agradável, e será isso que interessa... Para o ano há mais!!


2006/09/29

Majorettes e Playstations


Ser adulto numa era dominada por equipamentos e ferramentas que se baseiam numa existência virtual deve ser um pouco penoso para quem cresceu rodeado de objectos reais e concretos sem poder voar levado pela imaginação de um brinquedo ou um livro... E, fruto de "fast food" para a mente dos dias de hoje, uma diferença física de, digamos, 3 ou 4 anos, podem significar anos luz de distância numa simples conversa....
Desde menino que sinto especial admiração por tudo quanto tem a ver com automóveis; tive a sorte de crescer a cerca de 50 metros de uma oficina algo "sui generis" fundada nos anos 30 ou 40, pertença de 2 irmãos já com alguma idade, que a herdaram do pai, e na qual ainda hoje é comum se efectuarem reparações "à moda antiga". Desde sempre, ao passar o portão de entrada, era como se recuasse no tempo alguns anos, e visse os antepassados próximos dos automóveis novinhos em folha que circulavam lá fora, por assim dizer, na enfermaria... O facto de ser hábito fazer birra sempre que, ao ser levado de minha casa até à casa da ama que tomou conta de mim até aos 4 anos, não era feito um desvio pelo quartel de bombeiros lá da terra, só para ver se os carros ainda lá estavam, e relembrar todos seus nomes, como se de algo religioso se tratasse, ou pela montra da papelaria do Nogueira, para ver as novidades, é de certeza um sinal de que isto vem desde que me conheço enquanto pessoa... Também, entre os meus vizinhos do prédio, havia 2 que tinham especial afecto por estas maravilhas, tendo uma grande colecção de pequenos carrinhos, que na altura serviam de catálogo para ajudar a identificar os modelos a sério que via a circular... Claro que, aos olhos de um menino, um simples brinquedo de 7 cm de comprimento se pode tornar num potente e belíssimo automóvel real capaz de o levar para lá do pôr do sol, a alta velocidade, com a brisa a bater na face, ou a proporcionar a vertigem em cada travagem ou curva efectuada numa derrapagem controlada, com braços cruzados em contra-brecagem e ponta-tacão, para não perder potência à saída das curvas, rasando ombreiras de portas, cadeiras da sala, numa pista improvisada em cima do tapete ou no chão em tacos de madeira... Quando, anos mais tarde, numa feira de velharias em Coimbra, encontrei um modelo idêntico ao que tinha passado por minhas mãos anos antes, foi como se tivesse encolhido, qual Alice, e me tivesse tornado novamente menino... O valor pedido era algo irrisório, talvez 100 escudos ou algo parecido, e não hesitei em comprar o dito carrinho... Claro que, para quem se habituou a construir réplicas com algum detalhe e a mexer em veículos reais, este modelo é no mínimo tosco, mas isso é de tal forma irrelevante, que ainda hoje e aos meus olhos de menino, o carrinho é perfeito, apesar das esmurradelas na pintura e de pequenas mossas na carroçaria... Ao crescermos e vermos o mundo com o olhar de adultos, muitas vezes perdemos a ingenuidade de vermos as coisas pelo aspecto mais simples, e ganhamos com isso horas de angústia e cabelos brancos, como se costuma dizer... Ouvi há algum tempo alguém dizer que o que separa os adultos dos meninos é o tamanho dos seus brinquedos; bem, às vezes não me importo nada de ser menino, e, não raras vezes, através dos meus olhos de menino, encontrei soluções e alternativas para situações da minha vida de adulto, decidindo instintivamente, mas com uma sensação de honestidade tal que me deixou de consciência tranquila e a solução afinal era a óbvia, sem o perceber porquê na altura; é excelente podermos ser meninos de vez em quando, basta sabermos qual a porta que dá acesso a esse mundo maravilhoso, onde a cada segundo se podem descobrir nas coisas mais simples, significados mais profundos e respostas mais claras.

2006/09/27

...e abriram-se as portas!


A adolescência marca-nos mais do que outra qualquer etapa da vida; quando o corpo se começa a desenvolver e os nossos horizontes, até então muitas vezes camuflados, ou aos quais não dávamos a devida importância se começam a expandir (literalmente...), provocando um estado de consciência (ou não) que, ao invés da "idade dos porquês", onde bombardeamos os progenitores com questões, nos leva a procurarmos o nosso caminho, e a procurarmos em nós ou no que nos rodeia as respostas às nossas questões existenciais mais ou menos pertinentes. Um dos objectos mais importantes desta etapa, foi, sem dúvida, uma cassete cinzenta com etiquetas cor de laranja, que, apesar de estar demasiado madura e cujo som soa a claustrofóbico, guardo religiosamente desde os meus 14 anos... Uma das minhas colegas de turma, com um visual demasiado alternativo (hoje catalogar-se-ia de gótico, talvez, com o típico e ainda actual contraste entre a roupa preta e pele cor de pérola...) para uma rapariga de um pequeno burgo beirão, entoava uma ou outra vez "jingles" que me despertaram curiosidade... A páginas tantas pedi-lhe "Ah e tal, podes-me gravar uma cassete com isso?" ao que ela aceitou o pedido, algo surpresa, é certo, pois não sou propriamente muito extrovertido, e com um sorrisinho atrevido nos lábios... ("Ah e tal" até soa bem como início de frase, mas não me estou a imaginar a usar esta expressão na altura...) Pois bem, a partir dessa altura, "Roadhouse Blues, Light my Fire, Riders on the Storm" e outras tantas melodias começaram a fazer parte da minha playlist... E como o raiar de sol na aurora, que significado essas canções tiveram!!! Um misto de provocação, atrevimento e rebeldia que caracterizam qualquer adolescente e que desencadearam a procura de mais canções e afins, pela necessidade de experimentar, ouvir, sentir; sobretudo necessidade de compreender... Posso afirmar que durante anos foram fiéis companheiras, partilhando alegrias, frustrações, angústias, dando algumas respostas que pareceram pouco óbvias na altura, mas que agora se revelam as mais acertadas... Os anos passaram, com muitas alegrias pelo meio, mas entristece-me poder dizer que "I can't see your face in my mind.." Obrigado Ana Carla, onde quer que estejas!!!

2006/09/26

Derrapagens

Para quem não está familiarizado com o mundo dos automóveis, a palavra Fangio poderá pouco ou nada significar... No entanto, basta dizer que foi por 5 vezes campeão do mundo entre 1950, data do 1º campeonato do mundo de condutores, e 1957, então com a idade de 46 anos... Tem, estatísticamente falando, uma eficácia de cerca de 50% nos Grandes prémio que disputou, o que só por si o torna num marco do desporto automóvel, numa altura em que se corria sobretudo por desporto, já que o negócio das publicidades e afins estava por explorar. Chegou inclusivé a correr em Portugal, e a vencer, no GP de Sport organizado pelo ACP em 1957.


Uma figura comum nas corridas portuguesas era o Marquês de Fronteira, D. Fernando de Mascarenhas, sempre equipado com máquinas competitivas, fruto da disponibilidade e bom gosto que pautam os portugueses em questões automobilísticas. Este facto comprova-se pelas grelhas de partida da altura, onde Ferraris (na altura puros sangue com uma existência bastante jovem) eram bastante comuns. Com um palmarés invejável, este homem rico e generoso ( basta recordar que num GP disputado no Porto entregou o valor monetário do prémio aos pobres) teve um acidente no GP de Portugal de 1953 que poderia ter tido graves consequências; o "espectaculoso" acidente, como referido na reportagem publicada na Revista do ACP que cobre esse evento deveu-se ao piloto perder o controlo do bólide, e pressentindo que iria chocar contra o muito público presente, girou o volante indo embater contra o muro de uma escola existente na orla do circuito, ficando o belo e potente Ferrari no estado que a foto documenta... Ambos seriam mais tarde reconstruídos.... Entre os comentários ao acidente ficou no tímpano o que dá nome a este blog, que apesar se se contextualizar no mundo automóvel, pode ser conotado a muitas outras coisas na vida, sem perder objectividade... D. Fernando de Mascarenhas morreria anos mais tarde ao volante de um outro Ferrari, em Espanha, ao que consta numa corrida clandestina em estrada aberta...